Outro dia três mulheres caminhavam na rua com sete cachorros. Vendo-as conversar, percebi que nenhum dos animaizinhos lhes pertencia. Eram dog walkers (passeadoras de cães). Mais tarde mandei meu cachorro ao petshop para o banho semanal e no fim do dia, retornando do trabalho, observei um jardineiro a aguar as plantas de um belo jardim. E uma reflexão veio, como uma espécie de questionamento, porque ações tão simples e que para nossos avós e pais eram prazerosas, como o passeio e cuidado com seu pet ou o cuidar de suas plantas foram terceirizadas? Quantas pessoas possuíam um hobby como colecionar e catalogar selos, trabalhos manuais como desenho e pintura, tocar um instrumento musical e abandonaram por falta de….. Tempo.
Parece que em um mundo digital, o tempo corre diferente, sua velocidade não permite que se perca tempo com o que demanda por vezes de paciência e dedicação. Temos animais para amar, plantas para cuidar, hobbies que nos dão prazer, mas não temos tempo para amar, cuidar ou realizar o que gostamos em muitos casos por falta de tempo. Será?
De acordo com a perspectiva do psicólogo behaviorista Burrhus Frederic Skinner, o gerenciamento do tempo é um comportamento resultante das variáveis ambientais. Tais variáveis apresentam um conjunto de atividades que deverão ser realizadas em um espaço-tempo, nesse caso o que passa a ser gerenciado não é o tempo, mas as atividades a serem realizadas, como fora observado por Yoshiy e Kienen (2018) no artigo Gerenciamento de Tempo: Uma interpretação analítico comportamental.
Como dizia o poeta Cazuza o “Tempo não Para”, todos os dias uma lista infindável de atividades se soma às já existentes, seja dentro do próprio trabalho ou nas tarefas do cotidiano pessoal, o que inclui família e autocuidado, cabendo a cada um organizar o próprio tempo. O “gerenciamento de tempo” é algo que impacta a rotina sendo um fenômeno estudado desde meados do século XX, provocando reflexões a cerca do tema que não possui uma definição única, mas a de diversas percepções dentro da teoria.
Talvez, por isso, falar de gerenciamento de tempo possa parecer algo tão distante, quando levamos para a prática e procuramos aproximá-lo da realidade singular de cada um. No entanto, alguns hábitos podem abrir uma janela de possibilidades para o gerenciamento desse tempo.
Entre os vilões que impedem um gerenciamento de tempo adequado, citamos a procrastinação . Tendo sua origem no latim, procrastinatus, onde “pro” significa “à frente” e crastinatus “de amanhã”. A procrastinação consiste em adiar tarefas, deixando-as para realizar depois, ocasionando o acúmulo das mesmas e por conseguinte trazendo à tona sentimento de angústia, incapacidade e insegurança, por exemplo, alcançando estados de ansiedade. Suas causas podem estar relacionadas tanto a questões psicológicas como fisiológicas. O fato é que a procrastinação precisa ser observada com um olhar atento e não como uma característica apenas a servir de rótulo.
Quando se entende as causas da procrastinação a pessoa consegue encontrar formas de enfrentamento, que farão parte de um processo de autoconhecimento. Sob essa perspectiva, a psicoterapia vem dar suporte na descoberta das causas, no manejo e na criação de uma rotina, que auxiliarão no gerenciamento do tempo, apontando para a necessidade do autocuidado dentro do check list diário como prevenção do adoecimento mental.
Por: Monica Dini – Psicóloga | CRP: 17/6971
Fontes:
KIENEN, Nádia; YOSHIY, Shimeny Michelato. GERENCIAMENTO DE TEMPO:. Psicologia da Educação: Uma interpretação analítico-comportamental, [s. l.], p. 67-77, 2018.
BRITO, Fernanda de Souza; BAKOS, Daniela Di Giorgio Schneider. Procrastinação e terapia cognitivo comportamental:: uma revisão integrativa. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, [s. l.], 2013.