Luto – Quando a finitude nos atravessa

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Luto – Quando a finitude nos atravessa

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Muito se fala em saúde mental e como as emoções e sentimentos gerados no dia-dia atravessam a vida. Mas, entre estas, a perda é um tema, diversas vezes evitado e difícil de se colocar frente a frente.
Um dos questionamentos acerca, está nas limitações próprias do ser humano em lidar com as incertezas e dor causados pela perda e a finitude. Cabendo assim, um olhar amplo, além da morte, alcançando também o fechamento de ciclos que permeiam a existência, como as transições da infância para a adolescência e depois adultez, mudanças profissionais, aposentadoria e fins de relacionamentos, por exemplo. Como suporte nesse processo, a psicoterapia vem auxiliar na construção de novos sentidos e ressignificação, na vida que agora pulsa sob a necessidade de um novo olhar.
Mas como podemos classificar o luto? Será que podemos classificá-lo? Como uma pergunta, um exercício de provocação na psicologia, cabe uma reflexão. A dor relacionada a perda não pode ser mensurada, mas pode ser percebida pela forma e intensidade que o enlutado vivenciava seu relacionamento, seja com um ente querido, o ex-parceiro ou parceira e até o trabalho.
Parte da identidade é construída ao longo do caminho pelas trocas entre o mundo interior e os impactos provocados pelo mundo exterior em cada um. Quantas vezes ao se apresentar, a pessoa diz o nome e seguidamente a profissão, ou o nome do companheiro ou companheira, como uma forma de revelar um pouco de si. O fechamento de ciclos pode representar uma nova maneira de ser e estar no mundo que continua o mesmo, mas com outra configuração para quem passa pelo processo de enlutamento.
Entre as falas que podem retratar a perda é possível identificar: “Sinto como se um pedaço de mim tivesse ido embora” ou “Minha vida se resumia ao meu trabalho. O que faço agora?”. Em meio ao desabafo surge um sentimento de imobilidade, frustração e isolamento podendo culminar em alguns casos na depressão ou desencadeamento de transtornos como de ansiedade e pânico, por exemplo.

REDE DE APOIO


Amigos, parentes, vizinhos são essenciais como rede de apoio. A empatia que sentem por quem está sofrendo com a perda, os impulsiona a oferecer formas de alívio. No entanto, em alguns momentos corre-se o risco de causar mais dor ou indignação, por meio de discursos que procurem minimizar essa dor como “Você precisa esquecer já faz seis meses”, “Logo aparece outra pessoa, você é jovem” ou “Era só um emprego.” Tais frases podem trazer em seu conteúdo, a mensagem subliminar: “então, deixe de sofrer, hora de seguir”.

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Atitudes como essas, acabam por causar culpa e desconforto em quem ouve ao perceber de forma implícita, que o mundo parece dizer não haver mais espaço para a sua dor. A não elaboração do processo de finitude, acaba por estrangular a importância e a necessidade de vivenciá-lo. Perde-se assim, o potencial existente neste instrumento para que se possa enxergar a nova realidade e readaptar-se de modo mais consciente ao mundo que se apresenta agora.
Não há um tempo determinado para o luto, ou um método para passar por ele. Cada pessoa o sentirá de maneira única, conforme o próprio manejo frente às memórias e relacionamentos construídos com base nas crenças e valores trocados durante o convívio. A psicoterapia vem auxiliar no movimento que parte da pessoa enlutada em direção a sua nova forma de existir e experienciar a vida.
Fonte: Tudo bem não estar tudo bem
Megan Devine

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